Parteira ou ginecologista?

Algumas semanas atrás, começamos a analisar o Guia de Prática Clínica sobre Assistência ao Parto Normal ao falar sobre como o relacionamento entre profissionais e mulheres pode influenciar o processo de nascimento.

Hoje continuamos com essa análise, focando um tópico que considero interessante, apesar de as mulheres que vão ao hospital para dar à luz têm pouco poder de decisão: Parteira ou ginecologista?

Essa pergunta só pode ser feita quando o parto é considerado de baixo risco (principalmente se o curso da gravidez tiver sido normal), pois nesse caso assume-se que não deve haver dificuldades no parto e, nesse caso, a mulher pode ser tratada por parteiras, por obstetras ou ambos ao mesmo tempo.

Digamos que a escolha quando se trata de participar de partos de baixo risco é mais uma questão de protocolos e decisões hospitalares quando se trata de gerenciar maternidades do que algo que as mães possam pensar ou solicitar.

Mas não é melhor ter um ginecologista?

Muitas pessoas pensam que o ideal é sempre ser atendido pela pessoa que, em teoria, conhece melhor, já que em caso de problemas eles terão mais capacidade de resposta e, o lógico é pensar que com essa pessoa tudo vai melhor.

No entanto, observou-se que, quando um parto de baixo risco é acompanhado por uma parteira, os resultados são diferentes, a ponto de recomenda-se que as parteiras atendam a esses tipos de partos.

Quais são os resultados dos estudos?

Em 2008, uma revisão Cochrane de 11 estudos foi realizada. A soma de todas elas deu uma amostra total de 12.276 mulheres que foram tratadas de maneiras diferentes, de acordo com os modelos discutidos acima (parteira, obstetra ou um modelo combinado com a atenção de ambos).

Os resultados vieram para confirmar o que dissemos agora, que as mulheres atendidas por parteiras usaram exclusivamente menos peridurais, sofreram menos episiotomias e seus partos foram menos instrumentalizados. Também era mais provável que a mulher fosse tratada por um profissional (a parteira) que já havia se conhecido antes, ajudando a viver o nascimento em um clima de maior confiança e com a sensação de ter maior controle. Observou-se também que houve mais partos vaginais espontâneos (menos indução) e que a amamentação foi estabelecida mais cedo do que nas demais mães.

Em relação ao número de cesarianas, embora em outras publicações tenha sido observado que geralmente há menos cesarianas quando a pessoa que atende o parto é parteira, não houve diferenças entre os diferentes modelos de atendimento.

Com relação à morbimortalidade, existem publicações que sugerem uma tendência de maiores taxas de mortalidade perinatal e neonatal nesse modelo de atenção. Nesta revisão, no entanto, os dados são semelhantes em todos os grupos.

Conclusões

Uma mulher que vai dar à luz em um hospital não pode decidir quem deve atendê-la; portanto, ela não pode responder à pergunta "parteira ou ginecologista", mas simplesmente cruza os dedos e pede que as alturas sejam tratadas, quem quer que seja. bem e acima de tudo que seu bebê nasce saudável.

Atendendo aos estudos e experiências das mães o melhor é que os partos são assistidos por parteiras, uma vez que a satisfação das mães é maior e as complicações são menores.

Essa recomendação desaparece no momento em que um parto é considerado arriscado, momento em que é necessário (e útil) a presença de obstetras.

Muitos hospitais já estão adotando essa filosofia de trabalho e para mostrar um botão: no nascimento do meu segundo filho, Aran, e apesar de ele ter nascido prematuro (risco de parto), os cuidados no momento do parto foram prestados por parteiras. O parto foi vaginal após cesariana e não foi realizada episiotomia. No momento em que o bebê cutucou a cabeça, já havia um pediatra esperando, precisamente, sua prematuridade, mas, como eu disse, não havia nenhum obstetra presente.

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